terça-feira, 30 de julho de 2013

Aprender, praticar, transmitir.

Minhas unhas estão quebradas mas até pouco tempo ainda me serviram para fazer par com o violão meio desafinado e a voz trêmula que restaram. Hoje eu só me preocupo em deixar alguma coisa que ainda valha a pena se ler. Ganhar ou perder tempo o fazendo. 
Sempre me disseram que sensibilidade demais atrapalha a vida da gente, e eu, ignorante que era, acreditei. Ser uma pessoa forte, firme, era bem mais bonito naquela época.. E eu, de novo, acreditei. Só o tempo mesmo pra ensinar as besteiras que o "mundo" nos diz aos poucos. Ninguém é tão sensível o tempo todo, ninguém é tão cruel. Como é que não me disseram do meio? 
A vida é plural, feita de vários momentos e qualquer estereotipo que nos coloquem atrapalha. Angustia. Nos prende, ainda mais se você acredita nele. Ninguém pode ser o mesmo o tempo todo. E eu, particularmente acredito que mais do que isso, ninguém DEVE ser o mesmo o tempo todo. A gente se molda, a gente se ajeita, mas a gente se posiciona, ah, a gente se posiciona.. E gosta! É isso que importa. Me atrevo em dizer: muito mais do que certezas que existem nesse mundo, existem conflitos. E a construção da personalidade vem daí, é mistura!
Sendo bem sincera e um pouco autodestrutiva confesso, prefiro o desespero à ignorância. Não passarei silenciosa e contente pela tormenta se ela faz isso mesmo, me atormenta. Irei gritar, mesmo que meu grito seja calado por qualquer parede surda que atravesse o meu caminho para me barrar. Mas já devíamos ter nos acostumado, estamos jogados na realidade, e qualquer som aqui é ilusão. Ninguém ouve porque ninguém quer ouvir. 'Falar é muito mais fácil', ouvi um dia desses. E concordei. Quem é que não consegue abrir a boca e soltar o que tá engasgado, sufocado?! As vozes se misturam em meio à multidão, e faltam ouvidos. Faltam ouvintes..
"Aprender, praticar, transmitir..."
  E eu aprendi.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Por hoje: chega (?)

Ei, pequeno, olhe pra mim e ouça bem: Eu sei que anda sendo difícil. Mas não desiste não. E, com o perdão da palavra: Pare de se lamentar. Sei que você essa hora está pensando o quanto é fácil pra mim lhe dizer uma dúzia de palavras de conforto. Fácil pra você me agredir dizendo que essa dor é só sua e ninguém dá jeito, ninguém entende, ninguém sente. Não vou te julgar pelo melodrama, é normal, eu te entendo, acredite. Pode esperniar, pode gritar, pode colocar a culpa dessa dor em qualquer um, afinal, muito fácil arranjar um réu para nos tirar a resposabilidade dos nossos erros. Fácil demais se afogar em sofrimento e provar pra sociedade que és o último romântico da terra.
Quando se é contrariado, quando as coisas saem do nosso controle é isso que fazemos, eu, você, todo mundo... É muito mais fácil cumprir com o papel de vítima. Sempre teremos uma justificativa a altura para prolongarmos e afundar na infelicidade. Aceitar que não se tem mais o tudo em mãos é muito doloroso. Assumir isso então, ô, nem se fala. E então manipulamos tudo e todos, os abrigando a entrar no mesmo ritmo.
A certeza de que tudo nessa vida é êfemero me traz paz e calma o suficiente para nunca mais dançar esse ritmo. Estive afogado em problemas até me cansar demais e me lembrar o quanto estava sendo leviano ao verbalizar meus sentimentos super bem resolvidos de alto escalão sobre tudo.
Quando finalmente tive coragem de colocar ação nas minhas palavras pude perceber o quanto se faz presente e necessária a crença diária de que as coisas sempre estão certas e o quanto fazemos pouco caso dos detalhes. E, sinceramente, nunca vi lamentações resolverem problemas... Com todo o perdão da palavra: Pare de se lamentar. Que eu pare de me lamentar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Procura-se emprego. Desesperadamente.


Todos sabemos: preconceito nada mais é do que uma ideia antecipada; o não gostar sem saber o porquê, o criticar. Estabelecer diferenças entre as pessoas sem razão.
Pois bem, todos nós fomos um tanto preconceituosos alguma vez – ou você nunca fechou o vidro no sinaleiro depois de ver o ‘show’ de malabares? - Isso é próprio do ser humano. 
O preconceito racial é bem conhecido e não preciso deter-me muito nele. Sabemos que as manifestações são violentas, principalmente contra os negros - eles têm, sim, suas razões para odiarem o mundo, mas de nada vai adiantar dizer que um erro não justifica o outro. Foram arrancados de sua pátria, escravizados em mundos diferentes e, ainda, torturados num certo Pelourinho, hoje lindo e maravilhoso, todo colorido, lugar ideal pra turista tirar fotografias e rir não sei de quê.
O preconceito está sempre presente, e não precisamos de esforço para encontrá-lo.
Certa vez ouvi um casal conversando, ambos obesos, que a mulher gorda é mais descriminada do que o homem gordo. Eu não tinha pensado nisso; a descriminação ainda tem subdivisões! A gordura tem idade também, a gorda jovem é mais descriminada do que a idosa, a gorda idosa é perdoada, porque é idosa, e isso ao meu entender também é preconceito.
Mas vamos lá, como formada hoje eu digo, chegou àquela fase em que se precisa fazer algo além de estudar, é preciso trabalhar, começar a crescer na vida e formar a sua própria vida. E não pense que até no querer fazer algo decentemente significante não se vê descriminação. Outro dia desses estava lendo aos classificados do jornal tentando achar qualquer brecha de emprego que pudesse me ser útil. Recém-formada, jovem... Nada me encaixa. Nos classificados dos jornais a exigência do empregador é de que esses jovens tenham, no mínimo, três anos de experiência com-pro-va-da. Me diga, onde um recém formado vai tirar três anos da tal prática? – estágios? Não acho que dêem a vazão necessária.
O que faremos com os milhões de empregos prometidos pelo nosso governo? Cadê a competência, a experiência?
Liguei meus neurônios e consegui entender: aqueles dez milhões de empregos prometidos - que ainda não vieram - são para criaturas jovens, de fé, com experiência, brancas, magras, bonitas, nem altas, nem baixas e com uma saúde de ferro; e se forem homens, com cabelos; porque os carecas também estão no listão!

Enfim, coisas nossas, dos humanos
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(OBS: Esse texto, BEM diferente do comum daqui, foi escrito já fazem alguns anos para alguma redação de algum ano na época do meu colégio. Mesmo não sendo o convencional do "verbalizando" (rs), e apesar de um pouco chulo eu achei bem interessante e verdadeiro. Depois eu volto com a minha melancolia.)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O que o tempo leva.

Faz alguns dias que ouvi um amigo de longa data me dizer que estava mudada. Sempre enxerguei os amigos com alguns dons, e com certeza, nos fazer pensar e nos levar à momentos nostálgicos são alguns desses. No momento encarei o "mudada" como algo insignificante, mas não posso negar que aquilo ficou depois de algum tempo me corroendo. Martelando como o que não quer nada. Não que tenha me ofendido, de maneira alguma, mas comecei a perceber quantas coisas mudam na gente com o passar do tempo. Ou quanta coisa muda, de um dia pro outro, e a gente nem percebe.
Há quem julgue ser normal e saudável perder a inocência que se tem quando criança, há quem julgue perda de tempo e doloroso demais começar a encarar o mundo com mais malícia. Tem quem sofre. Tem quem nasceu pra rir sempre do palhaço que faz gracinhas em frente à TV e pra entender tudo ao pé da letra. Não sei se já tenho uma ideia fixa sobre isso. Talvez ainda vivo um meio termo, nem acredito demais, nem desacredito demais. Talvez, ainda, seja melhor viver sempre assim. Mas, uma coisa tenho que confessar: muitas foram as coisas que perdi pelo caminho, e, algumas por escolha própria. A gente tem esse direito. Se parar para pensar bem, pode até não ter sido perda, uma vez que tive que selecioná-las e descartá-las. Mas, de um modo geral, foram perdidas. E uma delas foi essa capacidade plena que se tem quando criança de se acreditar nas coisas do mundo.
Não que eu seja pessimista quanto as coisas da vida, isso é assunto para outro texto. Mas deturpamos tanto o modo de enxergar o valor das coisas que perdemos. Perdemos alguns medos que nos fizeram evoluir, mas perdemos também coragens que poderiam ter nos ajudado a crescer.
A conclusão é clara e bem objetiva: o tempo leva da gente muita coisa, e coisas que fazem parte de nós. Eu perdi muito pelo caminho, e recuperar tudo isso pode ser quase impossível, até porque algumas coisas realmente precisaram ser perdidas, e é nisso que me agarro. Perdi porque mudei, perdi porque evoluí. Perdi porque nos dias atuais não se precisa mais de coisas velhas. E quisá num futuro breve ou distante eu não perca também essas palavras, talvez esse seja só mais um texto regado de lembranças de algo que eu também esteja perdendo. É isso, que me reste sempre a esperança de perder e achar outra coisa para se colocar no lugar!