sábado, 23 de junho de 2012

O adeus que faltava.

Nunca se despediram. O adeus nunca veio, nem o beijo final e ele temia nunca vir. Sejamos honestos, ela já sabia, não precisava de palavras para comprovar o fim de um elo que, a essa altura, já era uma dúvida se existiu de fato. Não havia mesmo o que se dizer. Ou havia? Aquele silêncio falava muito mais alto do que os dois naquele domingo acizentado e se algumas palavras tentassem sair aquela hora com certeza se entalariam na garganta criando o único nó que existiria entre eles.
Depois de algum tempo ela chegou à considerável conclusão de que, bem no fundo, era possível dizer algumas coisas, porque durante noites e noites vários foram os diálogos que sobrevoaram sua cabeça. Naquele momento era provável também que o afastamento total só acontecesse depois dos verbos trocados, o fim só seria real quando não restassem mais saudade, lembranças e nem busca por explicações, essas que a gente fica buscando para chegar a uma resposta para o fim. 
Descobriu, finalmente então que o adeus que faltava continuaria ausente enquanto ela fingia que estava bem, fingia que era feliz e fingia que não amava. O adeus só veio depois que ela assumiu ser ele por dentro e aceitou sua condição de amante solitária depois que descobriu que o coração elimina as más lembranças e aflora as boas deixando, finalmente assim, o elo entre eles se tornar laço, dando enfim o adeus que faltava.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O menino da cara feia.

Esse ar de tristeza te define. Digo melhor, te define diante as pessoas que não te conhecem. Não é tristeza de fato, é uma máscara. Sempre suspeitei que você usasse máscaras, uma para cada dia, para conseguir ser quem você quisesse ser, na hora em que quisesse ser. Essa "cara feia" sempre foi sua porta de entrada, sem se preocupar em agradar ou não. E eu sempre te invejei isso, confesso. O teu jeito que não me permite saber o que esperar de ti, a tua eterna melancolia misturada na sua maneira desastrada de lhe dar com ela me provam cada dia um pouco que vemos o que queremos ver de cada pessoa, e de ti vejo o básico, o cru, o que me deixas ver.
Você tem o mundo nas mãos, mas anda perdido como se a luz estivesse apagada. E se a luz não acender, quem vai saber por onde caminhar? Como você vai caminhar?! Ninguém é tão bruto assim o tempo todo. Uma vez me disseram que era pura defesa sua, depois de tantas quedas as pessoas não te enganam mais, elas não conseguem mais se aproximarem. Elas sentem medo. E com a gente foi diferente. Não tive medo e você não teve receio. Te enxerguei e você deixou, e ficamos nessa de vai-não-volta, nessa certeza incerta de que alguma coisa faz nossa ligação, e na negação do sentimento que cresce.
Ontem confessei meu amor e você me provou o teu, mas só ele não é o bastante para nos unir. A gente não funciona em uma conta de adição. Precisamos de algo que ainda não temos e nem sei se teremos um dia. Preciso ser minha antes de ser tua e você precisa ser teu para assim ser meu, só meu. Mas eu sou do cara da última balada e você da menina da sua rua. Não nos parecemos em nada mas nos completamos em tudo. A verdade é que podemos ser qualquer coisa boa juntos, e deixarmos de ser apenas distância.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Comodismo.

Bianca não me amava e eu sabia disso. Sabia e escondi o tempo que pude, como pude. Porque mesmo assim, no dia em que ela resolveu ir embora fingi acreditar na única lágrima que escorreu em seu rosto. Ela fazia de conta que sofria, e eu que acreditava em seu sofrimento. Quando me virou as costas o gosto de sua última lágrima ficou empreguinado na minha garganta, não chorei. Talvez também não amasse e até hoje tenho minhas dúvidas. Não se a amava de verdade, mas se realmente sei o que é o amor. Sempre me envolvi em histórias de contos de fadas e adorava seus finais apesar de não acreditar em uma vírgula se quer deles. E por essas e outras, mesmo não sabendo o que é o amor, afirmo: Bianca não me amava.
O fato, irônico que seja é que, Bianca faz uma falta maior do que eu posso suportar. Não pelo amor que não existia, mas pelo comodismo que era nossa relação. Reafirmo que, por talvez realmente não saber o que é amor vejo essa falta como um alerta do meu egoísmo. Bianca era minha coragem, por isso o que me faz chorar as dores depois de ela já ter ido embora não é nossa relação física, porque isso não custa mais do que cem reais em qualquer calçada por aí, é a força e coragem que só ela me passava.
Frente a frente com a loucura e apatia o mundo não parece mais tão belo. Cultivo a rotina e uma monstruosa formalidade, mas essa falta... Ah! Essa falta não cultivo, seria muita coragem de minha parte, coragem que se foi com Bianca, ela que se cultiva em mim. As linhas dos livros de auto-ajuda que ganhei quando ainda acredita no amor de Bianca se misturam com o pessimismo de minhas palavras. Queria acreditar que a vida é perfeita, que decidimos nosso futuro sozinhos, que sou dono de mim mesmo e todos esses blá-blá-blás, mas não. O cara que escreveu isso deve hoje estar com a conta corrente recheada e deve ter alguem que o ame. Eu só acredito no que escrevo, quem sabe um dia também terei a conta racheada depois de publicar um livro de sucesso?! Enquanto esse dia não chega, escrevo tão somente para os dias passarem ouvindo a voz de Bianca ecoar no quarto "Coragem, coragem." E diante disso tudo finjo, como todos vocês que não entendo, que não sinto muito, que não ligo, que realmente não sei o que é o amor, porque o que é real, inúmeras vezes, nos faz mal.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Certeza nem tão certa.

As vezes acho ser uma pena ter que doar para receber, as vezes acho necessário. Sim, mudo de opinião como quem muda de roupa e não me envergonho disso, poucas são as coisas que estão convictas em minha mente e que sei que não vão mudar, poucas... Poucas são as certezas certas.
Defendo fielmente a ideia que precisamos saber criar espaços, abrir ciclos e ouvir novas ideias. Estar preparado para novos olhares  e experimentar novos sabores. Defender com unhas e dentes a causa do ex namorado babaca que merece uma segunda chance e no dia seguinte não querer ouvir o nome dele. E não, não é falta de personalidade, é certeza de que simplesmente as coisas mudam, se transformam e ninguém é obrigado a ter uma única opinião para o resto da vida sobre algo. É necessário mudar, se transformar, evoluir. 
Hoje a gente ignora a causa, amanhã está buscando-a para defender. Acredita-se na melhora, na mudança e na força maior capaz de realizar seu sonho de infância. A verdade é que, de uma maneira ou outra a gente sempre tenta disfarçar o estrago que nos faz as maldades do mundo com a certeza nem tão certa assim que, alguém dia, de algum modo a vida acabe nos compensando.