Queria ver se nós dois pudéssemos ser algo. As coisas iriam ser, no mínimo, muito engraçadas. Diferentes. E completamente fora da nossa realidade. Porque você não poderia usar centenas de desculpas para a sua falta de jeito com a nossa relação. Porque nós dois seriamos algo e você só aceitaria isso. Mas, se temos alguma certeza nessa vida é que não podemos ser nada quando estamos muito perto um do outro. Porque não, não dá certo. A gente se esbarra, se atrapalha, se preenche demais. Nos sufocamos com tanta vontade, tanto amor que não dá certo. E vamos combinar, tudo o que é demais sobra. E sobra sem dó alguma.
Mas se pudéssemos ser algo seriamos algo muito intenso, eu diria. Meio avassalador demais, dinâmico demais, (porque você sabe, eu sou dinâmica e você teria que me acompanhar). Meio cruel demais também porque seriamos tão egoístas com a nossa própria companhia que não aceitaríamos intervenção alguma, seriamos só eu e você, nada mais. Ninguém mais. E com certeza, seria tudo demais. Mas se pudéssemos ser algo o nosso demais não sobraria, engoliríamos toda a presença, o afeto, as tardes de domingo e distribuiríamos na vida em comum julgada eterna.
A verdade é que se pudéssemos ser algo você nunca mais precisaria olhar minhas fotos escondido pra ninguém perceber que assim como eu você também sente falta da gente, você não iria passar a mão na sua barba mal feita e lembrar o quanto eu gostava disso apesar de reclamar infinitas vezes o quanto elas me machucavam. Você não precisaria ouvir nossas músicas a fim de trazer conforto pois estaríamos juntos nos confortando mutuamente.
Sei que, se nós dois pudéssemos ser algo, por escolha ou fatalidade você lembraria da gente ao final do dia e a gente se encontraria no pensamento nos mandando boas vibrações depois de um dia cansativo. Porque se fossemos algo eu estaria ocupada o bastante com você agora ao invés de estar dissertando sobre eternos clichês de amores vindos e amores perdidos. Por isso, meu bem, me deixe guardar meu clichê e vamos ser algo.